segunda-feira, 7 de maio de 2007

De mau humor

O Freitas! O Freitas esse cão danado! Quando abre a boca sai um chorrilho de asneiras e banalidades. Gostava de saber o que é que ele tem naquela bola que está em cima do pescoço! É que nem para enfeite serve!
Vocês não conhecem o Freitas! Além da cabeça vazia tem-me cá um bafo! È um cheiro a alho podre e coentros sêcos.Senta-se ao teu lado no café, inclina-se na tua direcção porque te quere contar uma mexericada e tu apanhas logo com aquele bafo fedorento. Fazes das tripas coração para não vomitares logo ali. O suor escorre-lhe pela visage bolachuda. Quando a bica chega leva a chávena aos lábios e vai de sorver o café emitindo ruídos como os de um aspirador velho. Não demora muito e logo fica com uma “medalhas” castanhas na camisa branca. A barriga cai farta sobre o cinto que com dificultade segura ums calças cheias de nódoas!
Mas o que mais me irrita são as histórias que conta, um mal-dizer permanente de tudo e de todos, as mentiras sem fim, as piadas que dão dor de coração.
Outro dia por exemplo, tive de me conter para não lhe dar uma arrochada na fuça. Chegou à mesa, sentou-se e sem mais nem menos começou logo a irritar os nossos ouvidos com aquela voz de castrado:
-“ Vocês sabem, já vos havia falado nele, no meu tio que estava em Angola. Pois já não está! Chegou anteontem e ontem fomos jantar. Fartou-se de contar coisas sobre Angola. Vocês sabem como é que ele caçava leões? Pois é muito simples. Até eu fiquei parvo. Quando o leão abria a boca para morder, o meu tio enfiava muito rápido a mão pelas goelas abaixo, até chegar ao rabo, dava um esticão forte e o leão ficava do avesso. AH! AH! O riso alvar entoava por todo o café, nós entreolhavamo-nos numa comunicação muda como que querendo dizer: “até quando suportamos esta besta”. Mas ele tinha andado conosco na escola. Alguém de nós manda-o calar mas todos sabemos que o sol é de pouca dura. Aquele monte de banhas é o Freitas e há-de ser sempre o Freitas. Não muda mais. E assim lá o vamos suportando.
Eu fico sempre de mau humor mas volto sempre ao café, àquela mesa onde se senta o Freitas. È que o Freitas também serve de bombo de festa onde podemos descarregar a nossa por ele provocada agressividade.
Brigida Linda

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