domingo, 24 de junho de 2007

Coluna dos Primeiros Ministros

Em primeiro lugar agradeço ao “Mexerico” este espaço dedicado aos Primeiros Ministros. Até um Primeiro Ministro tem necessidade de desabafar.
Ser primeiro ministro é duro, mesmo muito duro. Estou mais que arrependido de ter enveredado por este caminho. Hoje seria muito mais feliz se me tivesse tornado artista. Não artista de cinema. Também é chato. Pintor é o que eu devia ter sido. Pintar, pintar é de facto a minha vocação! De vez em quando atirar com umas tintas para a tela, misturar tudo e já está! Depois era só assinar e ter um amigo com uma galeria de arte que não se cansasse de apregoar a profundidade das minhas obras. Em menos tempo que o diabo esfrega um olho estava rico e não tinha de me chatear.
Ser primeiro ministro é só chatices. Outro dia, por exemplo, fui à televisão para ser entrevistado por um casal de jornalistas. Mais que chatos! Fazem uma pergunta e eu mal digo três palavras já estão a interromper com dicas parvas. Deviam era ter conhecido o meu pai. Levavam logo umas bofardas acompanhadas com um “menino / menina”, não se interrompe os adultos quando estes falam”.
Como primeiro ministro, “noblege oblige”, tenho de sorrir, um sorriso muito amarelo, e mostrar-me descontraído. Cá por dentro a ferver, só há uma coisa que ajuda: meter a mão no bolso e apertar as bolas até que a dor faça esquecer o resto.Jornalistas são como os mabecos: mal cheiram sangue atacam em matilha e nunca mais largam a presa.
Também me chateia ter de explicar a mesma coisa cinco vezes. E eles voltam sempre à carga. Não lhes interessa a explicação mas sim a “mexericada” em torno desta.
Eu explico que há 3 estudos internacionais que apontam a Ota como o sítio ideal para construir o novo aeroporto.
Interrompe logo o sabe tudo do jornalista: “mas dizem que os ventos na Ota não são bons para as aterragens e decolagens...” –“Olhe você não é ténico do ar e eu também não”, respondo um tanto irritado.
O mabeco não desiste!
-“Mas há um estudo, dizem, que aponta a margem sul como sítio ideal”?
-“Não conheço”!
-“Mas...”
-“Não conheço”!
Dizem, falam, contam, diz-se por aí ... só mexericadas.
Ora bolas! Parlapapa!
Se decido o aeroporto é na Ota tenho 50% dos lusitanos contra mim. Se decido o aeroporto é na margem sul, então tenho os outros 50 % contra mim.
Assim, sabem o que fiz ?
Atirei uma moeda ao ar e já está: o aeroporto vai ser na Ota.Percebem agora? Artista é que eu devia ter sido. Ou jornalista.
O vosso querido Primeiro-Ministro.
José Pessoa d’Aventura

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